segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Texto 184

Não queria chegar aqui. Não queria sentar-me à mesa como se fosse um velho amigo. Simplesmente não queria.

E o ‘vamos deixar as coisas fluírem e tudo se resolve por si só’ veio como um calço. Essa idéia do tal calço me satisfez por um – curto – tempo, mas depois se esvaiu, pois eu percebi que era só uma fantasia tola. Cresceu em seu lugar o velho sentimento de que já falei, uma sensação de que há algo maior por trás disso tudo. Às vezes, investigando pequenas incoerências, chega-se a grandes descobertas. Eu sentia que o problema era muito complexo para que eu o abordasse sem mais aquela, mas em vez de esquecer, resolvi, como de costume, investigar as causas e os efeitos para ver quais os fatores que poderiam levar a um impasse entre a sua visão sobre aquele calço e a minha. Um impasse. A gente senta e fica de olhar parado, pensando, procurando aleatoriamente novas informações, vai embora, volta, e depois de algum tempo os fatores não detectados começam a surgir.

Não sei... de repente me veio à cabeça a cena dos dois velhos amigos, um católico e outro protestante bebendo cerveja, dando risada um da cara do outro. Até que comecem a discutir sobre o controle de natalidade. A alegria toda se esvai e o que sobra é a intolerância, a impaciência e a vontade de sair correndo.

Achei melhor esperar até que acontecesse algo errado com a sua verdade universal; aí eu lhe mostraria como fazer. Mas agora, tudo me parece tão distante - você está tão distante - que mal consigo tocá-lo. Não sei mais como fazer. Tudo o que eu tento se torna uma avalanche de erros. E você não parece estar tão disposto a me ajudar com isso tudo. Como posso ser eu mesma se você não me dá chance de me aproximar?

O que faço? Espero? Afasto-me? Ou me afogo de vez nesse mar de angústia em que me abandonei? E eu que tinha achado que a coisa poderia não estar tão ruim, acabei por perceber que estava era péssima. É só insistir no assunto que, de repente, a gente descobre que já se zangou, sem nem saber por quê.

Não sei porquê, mas parece que você joga tênis... e eu jogo mal pra burro.

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